terça-feira, janeiro 03, 2012

o grande Malemba

Foto tirada no campus universitario da Witts em Joanesburgo

Um Monte de estórias....


O MONTE DE HISTÓRIAS! (II)


O Lubango é sempre um palco de histórias incríveis, especialmente no ramo da comunicação social.

Com o surgimento do primeiro jornal no planalto da Huíla, o desenvolvimento das duas rádios antes da segunda metade do século passado, muito pouco se tem dito sobre a “história do jornalismo huilano”, uma área que, convenhamos precisa de mais investigação, para além da publicação imediata das memorias que os “ mais” velhos na arte têm. È uma forma, a meu ver de trazer para as gerações de hoje, o passado brilhante.

Hoje há mais quantidade (de jornalistas ou coisa parecida) e menos qualidade. Os conteúdos também são sofríveis. Aquele que já foi um dos “viveiros” do jornalismo angolano, especialmente o radiofónico e de imprensa escrita, parece estar a minguar, a sucumbir… Muitos seguem para a comunicação, não por vocação, mas movidos de outros interesses.

Muita gente já não tem na necessidade de dar voz aos que não tem a prioridade (a rigor assim seria) mas para confundir ainda mais as mentes menos permeáveis ao jogo de cintura habitual numa sociedade como a nossa, infelizmente.

Tem que se saber que entre a prima do mestre-de-obras e a obra-prima do mestre há diferença, felizmente.

É esta a convicção de Horácio Sousa dos Reis, ao escrever o livro “ Ao Lubango … Um monte de histórias”. O jornalista e autodidacta, com um pé na publicidade e na gestão da minha sempre querida Rádio 2000 é directo ao dizer a nova geração que é preciso entrar para o jornalismo, primeiro com paixão, depois com formação e humildade para um ser um jornalista com “J” grande! Concordo!

No seu livro, publicado na segunda metade do ano passado, Horácio, passeia as suas memórias em poemas escritos, a gente que o influenciou e as pessoas da sua geração. Parece que o período que mais o marca foi a passagem pela Emissora provincial da Huíla da RNA, onde chegou a chefe de produção. Foi ai onde, um estúdio equipado com meios que hoje, acredito, devem andar num museu qualquer, se gravou um dos maiores clássicos da música huilana. Um som que é, ainda, um hino ao Lubango.


Waldemar bastos cantou “ Lalipo Lubango”, uma musica de sonho e nostalgia para os huilanos que estão na disporá ou em outros cantos do país. Waldemar Bastos aceitou, convicto, a ideia do Horácio para cantar.

Em “ Lubango… Um monte histórias” o autor fala ainda da sua passagem na gestão do complexo turístico e desportivo da Nossa Senhora do Monte, a maior prova de corrida automóvel de Angola (200 kms da Huíla) e das suas habituais crónicas apimentadas por um verbo forte e destemido, mas aligeiradas pela candura da leitura, com a sua voz cavernosa, que poucos o igualam em Angola.

Testemunhei uma época, como editor da Rádio 2000, que as “ suas” notas de redacção obrigavam qualquer gestor público, líder associativo, empresário ou outro agente qualquer, com a necessidade pôr as “barbas de molho” não fosse o próximo texto questionar o seu pelouro.

Infelizmente isto é passado, para mal da democracia. Horácio deixou a Rádio 2000 e com ele o que de melhor havia em termos de opinião pela cidade. Será que alguém quer lhe seguir os passos?

Um rio de noticias


UM RIO DE NOTICIAS…


Quando na noite de domingo, uma avassaladora e arreliante SMS entrou pelo meu celular adentro, interrompendo a minha atenção a eleição do novo “board”, equipa líder do fórum de jornalistas investigativos, fiquei perdido. Estas volta e meia, funestas mensagens, deviam conter “aviso prévio”, se fosse possível, antes de nos estragarem a vida.

A minha teimosia me atirava para a raiva. “Não, não pode ser…” Comentei, meio balbuciando, com minha companheira destas andanças, a Suzana Mendes.  Ela pareceu mais incrédula do que eu. As lágrimas insistiam que tinham que escorrer. Era o único consolo, mutuo, numa sala com mais 55 colegas e professores catedráticos  de toda a África. Até um do Sul do Sudão apareceu, sem convite inicial!

Com um esforço suplementar, pensei com os meus botões em homenagear o meu velho amigo “RIACHO”, com aquilo que o jornalismo nos ensinou: a observação, a narrativa, em fim a crónica. Um adeus! Afinal era o jornalismo um dos muitos pontos em comum entre eu e ele. A nossa forma de vida. A forma romântica, por vezes, como olhávamos para os factos, idealizávamos coberturas, distribuíamos as tarefas aos reportes ou “calcorreávamos” Luanda para dar uma tal “ rádio a cores” que defino o mosaico comunicacional na Rádio Ecclesia.

O  Rio, qual “confidente das horas vagas”,  deve ter ouvido, sabe lá Deus quantas vezes, alguns modelos e projectos que tenho idealizados.

Voltemos, porem, ao passado. Quando em 1995, franzino e imberbe, franqueei a porta principal da Rádio Huila, com uma cabeça cheia de sonhos e ilusões sobre a profissão, a minha curiosidade e dos meus colegas estagiários era conhecer os “gurus” da maior estacão do sul de Angola, ainda não sei se por rádio de acção ou a colossal demissão das suas estruturas. Também nunca perguntei.

O Rio Alves era um deles. Uma verdadeira estrela da companhia. Com ele nomes como o editor Rebelo Veiga, o meu mestre Joaquim Armando, o velho Álvaro Dias, a tia Aurora, a tia Rosa, hoje directora provincial da comunicação social, o director Celso e outros que deram o litro, mas que não cabem neste humilde e singelo retrato.

Mas voltamos, pois, ao Rio Alves, nome que retirou do seu falecido pai e adoptou como nome profissional. A sua verdadeira graça é José Manuel Domingos. Era Rio para aqui, Rio para ali. Parecia um verdadeiro “omnipresente” . Era o “ Expresso da tarde” ou o Noticiário provincial das 18H30. Era a publicidade ou comunicados. As vezes um espaço que ficou celebre para mim o “ Huila a noite”, quase como o “Café da Noite” do Sebastião coelho. Ficava com o Rádio do meu “velho”, para ouvir o Rio, a Aurora, depois o Carlos Queirós entre outros, apenas interrompendo para seguir “ Londres ultima hora” da BBC.

Lá estava o homem. Integrei uma equipa que sob supervisão superior realizava o “ Nova demissão”, um espaço jovem para o final do dia e integrado no programa do Rio Alves. Assim dava vontade de estar na cabine para “privar”, mesmo a escassos momentos com a estrela. Com aquele espaço, antes gravado e depois directo, tive as primeiras lições: O rigor pela hora e objectivos definidos nas nossas produções. Vitoria!

Mas a nossa estrela sai, para o nosso pranto, da Rádio. Não sei se instigado, convidado ou apenas olhando para “outros voos” como me disse num desses almoços as pressas algures no São Paulo, em Luanda, anos depois.  

Para tristeza do Zito machel, da Nadia Camate, do João Carlos e minha, soubemos que o “ homem da voz cândida”, a moda dos anos oitenta, seguia para o empresariado, numa firma que dava cartas na cidade que fica a sombra da Serra da Chela.

Depois eu me mudo com “armas e bagagens” para a Rádio 2000 e era nos vermos, fugazmente á hora do almoço. O Rio parecia feliz com o que fazia. Tenho a certeza que o “bicho” da rádio lá continua a apertar.

Depois venho para Luanda e anos depois, recebo do João Pinto a proposta de darmos uma mãozinha ao também seu mentor, na mesma cada, a Rádio Huila. Aqui faço esta inconfidência. Se alguém pusesse o João e o Rio no mesmo programa, a primeira impressão do ouvinte seria de que era a mesma pessoa. A adaptação foi fácil, tirando a tecnologia. Rapidamente subiu na cotação interna. Voz sóbria, quase pau para toda obra. De fácil trato. Fino, quase um gentleman, vaidoso e aprumado, trajado a rigor. Bom, afinal a nossa estrela continuava.

Não se coibia em ser um dos que mais cedo chegava ao nosso sempre desafiador turno da manha, com horários sempre imprevisíveis. Hora choveu e já está engarrafado. Hora a criança está doente. Em fim em fim. Posso arriscar que nunca o vi a lançar palavras duras a alguém, mesmo se a situação assim o exigisse. Acho que partiu sem inimigos, reais ou imaginários. Depois das críticas que volta e meia recebíamos, lá estava o homem com ânimo de sempre. Era a verdadeira acepção de que “com um sorriso nos lábios custa, sempre, menos”, parafraseando o pivot da LAC. Fazia desde a reportagem á edição. As mudanças de turno, a pressão,  positiva,  da editora da altura e  eterna colega e amiga Josefina Komba.

Adicionava a leitura e a inevitável publicidade, nos momentos de aperto “ kuanzal”

 Nestes anos de trabalho, talvez para quebrar a rotina vou sempre dando nomes ao pessoal, especialmente os do meu turno. Assim temos o Sasse, a Sassinha, o “Fernandinho Beira mar”, entre outros “nomes” absolutamente jocosos. Mas foi Riacho que bem colou ao nosso rio. Já foi chamado de “UM RIO DE NOTICIAS”, mas certamente sorria quando ecoava pela redacção a frase “ Riacho vem a síntese! ” Entre um “Rio de noticias” e o “Riacho”, sempre  menos caudaloso, intermitente, varias vezes  serpenteante e a procura de um rio maior, conseguiste aos 46 anos, cerca de 30 dedicados a rádio, ser tu próprio.

A morte foi mais uma vez inesperada, rude, ridícula. Ela vem como um salteador sem hora definida. A morte, ainda dias falava dela na revista vida obriga-me a revelar que arrancou-me mais um amigo desinteressado. Deixo-nos, nos os amigos do amigo que parte,  cada vez mais soltos nesta “ selva urbana” em que se transformaram as nossas sociedades, as nossas vidas…

Este é o adeus que nunca te queria dar...

Manuel Vieira

Braadfontein, Joanesburgo

África do sul




terça-feira, setembro 21, 2010

O sonho da Rádio 2000

O director geral da Rádio Comercial 2000, Manuel Bartolomeu, disse segunda-feira, na cidade do Lubango, que a sua emissora pretende estender, para este ano, o sinal a todos os municípios da província da Huíla.
Em declarações à Angop, a propósito das comemorações do 18º aniversário da estação radiofónica, o interlocutor disse tratar-se de uma acção virada para o desenvolvimento por meio da divulgação de conteúdos informativos e de entretenimento em zonas onde não chega o sinal de rádio.
Neste momento, a Rádio Comercial 2000, indicou, emite já o seu sinal no município da Matala. "Pretende-se repetir o sinal e fazer chegar onde as populações necessitam e não há presença de outras estações de rádio", sublinhou.
A instituição, acrescentou, tem estado a levar a cabo a sua actividade com maior ou menor dificuldades superados pelos esforços empreendidos pelos seus funcionários, maioritariamente jovens, na difusão e interacção de mensagens.
Rádio Comercial 2000 comemorou o seu 18º aniversário de existência no dia 17 deste mês.

quarta-feira, abril 07, 2010

A curva da garrafa e a o sinal da estação central do CFM

A estranha " mea culpa" do governo!

Demolições de casas em Angola na ordem do dia. Pela primeira vez na sua história o governo angolano viu-se forçado a pedir publicamente desculpas devido a avassaladora onda de demolições em algumas zonas do país.
Milhares de famílias estão sem casa, passando por inúmeras privações em tendas improvisadas em terrenos baldios. As críticas tanto interna como externamente terão obrigado a essa “ mea culpa” do executivo de José Eduardo dos Santos que paradoxalmente prometeu um milhão de casas até 2012. No terreno o drama continua.
É um pedido de desculpas ao mais alto nível. O ministro da administração do território, Bornito de Sousa, disse que o governo angolano se desculpa pela onde de demolições de casas das populações.
Só nos últimos três anos cerca de 45 mil famílias terão ficado sem casa, segundo alguns activistas de direitos humanos. O executivo sempre alega que a população na sua maioria pobre construiu em zonas descritas como terras de reserva exclusiva do estado. Estas pessoas ergueram moradias depois de terem sido empurradas pela guerra áreas junto as cidades, como Luanda.
Observadores no entanto apontam que o executivo fez este ligeiro recuo devido a solidariedade nacional e internacional pelas populações sem tecto, numa altura de fortes chuvas em Angola.
O mais recente caso de demolições em Angola, teve lugar na cidade do Lubango no sul do país. Numa só sentada 3 mil casas foram deitadas abaixo por ordem do governo local, o que originou um coro de criticas, ate mesmo dentro do MPLA, o partido que suporta o governo.

Os críticos alegam que é desumana a forma como são tratados os cidadãos. Antes tinha sido em Luanda, onde 15 mil famílias foram atiradas em tendas depois de verem as suas casas partidas.

O processo de realojamento é fraco, o que origina dificuldades humanitárias, como falta de alimentação, água potável, hospitais e claro residenciais.

Há relatos de frequentes doenças e mortes principalmente em crianças.

CARTA ABERTA

C/c: Exmo. Sr. Presidente da República – LUANDA
Ao Exmo. Sr. Ministro da Administração do Território Do Governo de Angola Att: Exmo. Sr. Bornito de Sousa L U A N D A
ASSUNTO: CARTA ABERTA SOBRE DEMOLIÇÕES E DESALOJAMENTOS FORÇADOS EM ANGOLA Exmo. Sr. Ministro
A OMUNGA vem por este meio e publicamente demonstrar a sua congratulação com o facto do Exmo. Sr. Ministro, em representação de Sua Ex.ª Sr. Presidente da República, ter pedido desculpas às mais de 2000 famílias que foram vitimas das últimas demolições na cidade do Lubango. Este posicionamento demonstrado no acto central do 04 de Abril, em Menongue, é o reconhecimento por parte do executivo angolano, em especial realce do Exmo. Sr. Presidente da República, da flagrante violação de direitos humanos ocorrida com as referidas demolições.
A OMUNGA, através da campanha “NÃO PARTAM A MINHA CASA” tem vindo a chamar à atenção das diferentes autoridades e da comunidade nacional e internacional para as condições sub humanas para as quais foram atirados estes milhares de cidadãos. Alertou para o facto destas demolições (e tantas outras ocorridas em Angola) violarem a Constituição, a legislação nacional e todos os tratados de direitos humanos.
Gostaríamos mais uma vez lembrar que, no ponto 1 da Observação Geral N.º 7, o Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais:
“Chegou à conclusão de que os desalojamentos forçados são prima facie incompatíveis com os requisitos do Pacto” (entenda-se Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e culturais) Congratula-se ainda com o compromisso de que nunca mais ocorrerão desalojamentos forçados nas condições verificadas no Lubango.
No entanto, a OMUNGA apela para o facto de que, para além deste pedido de desculpas público, sinal importante e encorajador, e do compromisso de se passar a cumprir a lei em acções futuras, o executivo angolano deve, atendendo à sua responsabilidade: 1 – Apoiar o processo de investigação e de responsabilização criminal e disciplinar de quem dirigiu tal acção; 2 – Implementar as medidas compensatórias justas para apoio às vítimas das demolições do Lubango; 3 – Criar condições dignas e urgentes de reassentamento, incluindo o acesso aos títulos de propriedade, condições de habitabilidade, acesso a serviços e fontes de rendimentos e sobrevivência. Dar especial atenção a grupos mais vulneráveis como crianças, idosos, pessoas com deficiência, mulheres grávidas, etc.; 4 – Criar as condições para que todos os processos jurídicos pendentes de queixas de vítimas de demolições noutras localidades, essencialmente Luanda, venham a concluir na compensação dessas vítimas; 5 – Parar com todas as demolições em Angola até que seja aprovada a legislação apropriada que garanta que a acção de despejo seja a última saída e que defina, especificamente, as circunstâncias relevantes e as salvaguardas para o momento em que a acção de despejo for levada a cabo; 6 – Convidar a Relatora Especial da ONU para o Direito à Habitação Adequada, Sra. Raquel ROLNIK, para que visite o nosso país e possa dar a sua assistência, como parte do esforço para garantir um padrão de vida digno, ao processo de criação ou reforma de legislação e políticas para as adequar aos padrões internacionais; Por último, lembramos que é do vosso conhecimento que o direito à manifestação de protesto contra as demolições foi duas vezes violado através de impedimento abusivo do Governo provincial de Benguela. A marcha NÃO PARTAM A MINHA CASA foi proibida a 25 de Março de 2010 e voltou a não ser autorizada para 10 de Abril de 2010. As ameaças públicas proferidas pelo Governo provincial de Benguela através da presença nas ruas de centenas de polícias de intervenção rápida e da leitura de um comunicado nas rádios locais, merece também, por parte do Exmo. Sr. Ministro e de Sua Ex.ª Sr. Presidente, um pronunciamento público condenatório e um pedido de desculpas. Assim, solicitamos: 1 – Que intercedam no sentido de permitir a realização da marcha NÃO PARTAM A MINHA CASA para 10 de Abril de 2010 (sábado) com a concentração marcada para as 13.00 horas e o início às 15.00 horas; 2 – Que publicamente se comprometam com o facto de nunca mais se impedir ou tentar impedir o exercício do direito à reunião e à manifestação, conforme interpretação da Constituição, legislação nacional e tratados internacionais de Direitos Humanos.

Quaisquer informações adicionais, podem-nos ser solicitadas. José António Martins Patrocínio Coordenador

segunda-feira, abril 05, 2010

Lubango em imagens

O Lubango do asfalto e o asfalto a ficar para trás...

domingo, abril 04, 2010

Será que ainda temos estes seres?

Será que nos parques do Bicuar ( Huíla), Mupa ( Cunene) e Yona ( Namibe) ainda temos estes animais? Esta é uma inquietação ambiental.
Legenda: Foto tirada em Joanesburgo/ 2009

E no Lubango, o "bilo" continua. Perdão, o braço de ferro...

Eis os protagonistas, em ponto grande pelos nossos, sempre criativos, jornais da " Guimbi"! Faz frio que farte na Tchavola. As demolições poderão continuar, assim como a desdita do povo da minha terra.
O " bilo" parece já ter vencedor antecipado, mesmo fora das arenas partidárias locais, pois um dos protagonistas teve uma visita de reforço.
PS: A fotografia em baixo ilucida ( quase) tudo! Propositadamente assim colocada, não venha o diabo tece-las... Fui

sábado, março 13, 2010

Um Rio espectacular!

PR RECUSA CARTA DA OMUNGA

Legenda: ZéTó e Manuel Vieira
NOTA DE IMPRENSA PRESIDÊNCIA RECUSA-SE A RECEBER CARTA DA OMUNGA A OMUNGA vem a público reclamar o facto da presidência da República não ter aceite receber a carta que dirigiu ao Exmo. Sr. Presidente da República, a 10 de Março de 2010, com a REF.ª: OM/ 042 /10, com o ASSUNTO: RECLAMAÇÃO CONTRA AS DEMOLIÇÕES NA CIDADE DO LUBANGO (em anexo). A OMUNGA aproveita ainda para expor a sua indignação por tal facto que considera um desrespeito ao cidadão e às organizações da sociedade civil. De forma a que não venham a surgir justificativas de não intervenção por parte do Presidente da República, por falta de informação sobre as acções de demolições massivas que estão a ocorrer na cidade do Lubango, a OMUNGA solicita a todos os meios de comunicação públicos e privados que publiquem e divulguem a referida carta. José António Martins Patrocínio Coordenador

RECLAMAÇÃO CONTRA AS DEMOLIÇÕES NA CIDADE DO LUBANGO

NOTA DE IMPRENSA RECLAMAÇÃO CONTRA AS DEMOLIÇÕES NA CIDADE DO LUBANGO
A OMUNGA, vem por este meio demonstrar a sua indignação em relação às demolições que estão a ocorrer na cidade do Lubango, de acordo a informações postas a circular.A OMUNGA, vem por este meio demonstrar a sua indignação em relação às demolições que estão a ocorrer na cidade do Lubango, de acordo a informações postas a circular.
Na devida altura, a OMUNGA tornou pública a sua inquietação em relação à possibilidade de que viesse a acontecer tal acção. Aclamou publicamente para que fossem tomadas medidas de forma a respeitarem-se a Constituição de Angola e os demais tratados de direitos humanos no que se refere a esta matéria.

Perante tais factos, a OMUNGA está neste momento a envidar todos os esforços que permitam a recolha de toda a informação que demonstre as violações de direitos humanos por mais um processo de demolições massivo levado a cabo pelas estruturas do Estado de Angola.

A OMUNGA lembra que entre várias recomendações feitas ao Estado de Angola a 12 de Fevereiro de 2010, aquando da revisão de Angola pelo Mecanismo de Revisão Periódica do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, e que esperamos que sejam aceites e respeitadas, salientamos:
131. Adoptar medidas legislativas definindo estritamente as circunstâncias e salvaguardas relacionadas com acções de despejo e parar com todos os despejos forçados, até que tais medidas sejam estabelecidas;
134. Fazer um convite ao Relator Especial para o direito à habitação condigna, de forma a obter uma opinião ou conselho independente referente ao desenvolvimento de legislação e políticas conforme os padrões internacionais;
135. Tomar as medidas necessárias para garantir que a acção de despejo seja a última saída e adoptar legislação e directrizes que definam, especificamente, as circunstâncias relevantes e as salvaguardas para o momento em que a acção de despejo for levada a cabo;
136. Providenciar a necessária assistência às pessoas despejadas, especialmente aos membros de grupos vulneráveis, incluindo mulheres, crianças e idosos; Nesta conformidade, a OMUNGA solicitou à Assembleia Nacional a criação urgente de uma comissão que investigue e avalie a amplitude do processo de demolições em curso na cidade do Lubango.
Solicitou ainda ao Exmo. Sr. Presidente da República que ponha fim imediato a tal acção, que exija o cumprimento de todos os pressupostos exigíveis para acções do género e que instaure um processo que permita o desenvolvimento de uma investigação que venha a apurar os factos e punir os responsáveis, sob pena do Exmo. Sr. Presidente da República ser responsável por todas as violações de direitos humanos que estejam a ocorrer ou que advenham de tal acção de demolições.
A OMUNGA apela a toda a sociedade, à comunidade internacional e aos organismos internacionais de direitos humanos que intercedam junto do Estado de Angola no sentido de exigir o fim de todas as demolições e desalojamentos forçados em Angola.
Acreditamos, sinceramente, que o bom senso orientará o Exmo. Sr. Presidente da República, o Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Nacional e todos os Exmos. Srs. Deputados à Assembleia Nacional.

Demolições na Huíla

As demolições de casas ao longo da linha férrea no perímetro de 50 metros que iniciaram Domingo passado, 7 de Março, continuaram até hoje. Fontes seguras disseram que praticamente o eixo urbano da linha já foi todo limpo – casas demolidas. As últimas demolições feitas ontem toleraram a demolição de casas que estão no perímetro de 20 a 30 metros, ao contrário dos primeiros dias.
A Emissora Provincial da Huíla e a TPA ao nível local continuam a não divulgar informações sobre o que está ocorrer nas demolições, que é totalmente de interesse público. Também, nenhum correspondente da rede nacional pública de rádio difusão passou esta notícia. Hoje pela manhã, passou uma peça na EPH duma entrevista de uma mulher desalojada que dizia ter sido desalojada e ter recebido condições para reerguer a sua casa noutro lugar.
Não houve até agora nenhum balanço do Governo sobre estas demolições. Várias fontes falam de 7 mortes no total, sendo uma criança que caiu do camião que transportava pessoas desalojadas, uma criança que foi atropelada por carros do Governo que fugiam o apedrejamento de populares no bairro Canguinda, no Domingo, dia 7, um adulto que desmaiou aquando da demolição da sua casa e acabou por morrer hoje no hospital Central. Entretanto, a família do finado já está na Tchavola, lugar onde está a ser depositada a população desalojada, mas não tem lugar para fazer o óbito. Outras pessoas que morreram incluem crianças que teriam ficado numa das casas demolidas .
Estão a ser distribuídas parcelas de terras aos desalojados e até hoje já tinham sido entregues cerca de 500 parcelas. Nem todos tiveram acesso as tendas que não chegaram para todos. Certamente que deve haver gente que não foi para Tchavola, mas sim reinstalou-se na cidade pelos seus próprios meios, embora tendo direito e acesso ao terreno.
Há informações de tensões e conflitos entre os habitantes locais da Tchavola e os novos inquilinos que estão a ser depositados lá, por causa da terra. Ou seja, as lavras dos habitantes locais estão a ser cedidas aos desalojados e isso está criar problemas entre eles. Diz-se que é o soba local que está a liderar a insatisfação e rejeição popular.
Hoje de manha a Emissora Provincial da Huíla passou uma noticia do corresponde do município de Quipungo dizendo que as demolições de casas que estão no mesmo perímetro não permitido ao longo da linha férrea e as casas que foram construídas por debaixo da Linha de alta tensão que conduz energia eléctrica da barragem da Matala para o Lubango e Namibe, também vão ser demolidas em breve.
Ainda hoje de manha, o Consórcio Terras da Huíla, uma Rede Social de Organizações da Sociedade Civil que inclui Igrejas na Huíla, fez uma reunião para analisar o contexto e a situação concreta das demolições e vai emitir um comunicado que expressa a sua posição sobre a situação.
Fala-se em surdina que as ordens de demolição de casas partem do Governo Central, nomeadamente do Gabinete Nacional de Reconstrução. Para além da limpeza ao longo da linha férrea fala-se da previsão de projectos turísticos ao longo da cordilheira montanhosa onde se situa a estátua do Cristo Rei.
Portanto, estas demolições fazem parte dum processo faseado, isto é, a segunda fase inclui as casas que estão supostamente em zonas de risco como o bairro suburbano do Ferrovia, que já receberam notificação do governo para saírem em 15 dias.